Jorge: "Nosso meio é podre..." |
No último domingo (1), após o show “Villa Mix”, em Goiânia, o colunista André Piunti, do Universo Sertanejo (UOL) teve uma rápida conversa sobre mercado com o Jorge, da dupla Jorge e Mateus.
Estreia reproduz agora a entrevista na íntegra... confira...
Já havíamos conversado a respeito, mas nada de forma aprofundada. Em meio a uma discussão e outra, ele disse que pela primeira vez estava com vontade de falar publicamente sobre algumas situações do meio sertanejo. A entrevista que pode ser conferida mais abaixo foi feita na noite de ontem (3), na casa dele, em Goiânia.
Além de se mostrar incomodado com os rumos do mercado e da música sertaneja, ser incisivo ao chamar o meio sertanejo de “podre” e assumir que tem “nojo” de tudo o que vem acontecendo, o cantor admitiu que já pensou em parar mais de uma vez por não aguentar determinadas situações.
Aos que não são habituados com o meio sertanejo, Jorge e Mateus têm 7 anos de carreira, e são considerados a principal dupla da nova geração, seja por repertório, faturamento, público e etc.
O cantor, de 29 anos, está incomodado, principalmente, com as rixas dentro do mercado. Rixas entre duplas, escritórios, empresários e outras pessoas importantes.
Como se sabe, apesar do sucesso, tanto ele quanto Mateus mantém uma certa distância proposital da mídia, o que torna a conversa ainda mais interessante.
Abaixo, a entrevista dividida em duas partes: mercado e música.
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Mercado
Por que você decidiu falar agora?
A gente chegou a uma situacão insuportável, e acho que é um momento em que alguém precisa falar algo. O mercado nosso é podre, podre. Onde já se viu essa competição que acontece hoje entre duplas, entre escritórios? Nossas carreiras não são um jogo, ninguém tá competindo, ninguém vai ser campeão no fim do ano se fizer mais pontos. As pessoas estão equivocadas. Há uma briga de bastidores hoje entre os escritórios que só atrapalha.
Hoje existem grupos isolados, escritórios que criam rixas com os outros, e isso não leva ninguém a nada. Enquanto você se preocupa demais com o que os outros tão fazendo, você tá deixando de se preocupar com seu trabalho. Eu tô com nojo, disso. Nojo.
O seu escritório também é bastante criticado…
Sem dúvida, e eu incluo o meu nisso. Os escritórios viraram ilhas e os artistas se fecharam em grupinhos. Tá todo mundo esquecendo que nós não somos nada, somos apenas cantores tentando fazer o que a gente mais gosta. A vaidade tá acabando com qualquer coisa boa que ainda restava nesse meio nosso. Se a nossa preocupação principal não for a música, a carreira tá com os dias contados.
Houve alguma passagem específica que te incomodou mais?
É muita coisa, não são acontecimentos isolados. Eu fico puto, por exemplo, com essa cultura do tapinha nas costas. Você recebe a pessoa numa boa no seu camarim, na maior boa vontade, e fica sabendo que ela vive tentando descobrir quanto foi seu último cachê, seu último público, como anda sua carreira… com qual intenção? Onde a pessoa acha que vai chegar com esse comportamento?
Não é um comportamento comum a qualquer mercado?
É diferente. Diferente porque aqui não há concorrência. Uma dupla ganhar menos não quer dizer que eu vou ganhar mais. Uma dupla sumir, não quer dizer que outra vai aparecer. Isso não competição. Não muda nada se fulano ganha mais ou menos que eu. Você me entende? Nós temos mais de 6 mil municípios no Brasil. Tem dupla pra cobrir tudo isso? Não tem, essa visão de concorrência dentro do próprio mercado é o fim. Olha o que eu tenho, olha minha casa, minha vida… você acha que eu tenho que me preocupar se tem um cara ganhando um cachê mais alto que eu? Eu tô errado?
E quem alimenta, quem cria essas intrigas?
São coisas de bastidores. Há uma competição insana entre empresários. Eu não preciso citar nomes pra que as pessoas saibam, todo mundo no meio sabe o que acontece, mas isso precisa acabar. Isso tá estragando a vida de quem tá ali pra trabalhar, de quem vive de música. Me diz, cara, como é que uma pessoa trabalha a semana inteira, às vezes tem um dia só de folga, e consegue perder tempo pensando numa forma de derrubar uma outra dupla? Qual o benefício em ver um evento dar errado? Em geral, as pessoas precisam baixar um pouco a bola e pensar mais na própria carreira.
Critica-se muito os anos 1990, falam que os “Amigos” fechavam o mercado, que só três duplas cuidavam sozinha do mercdo, mas o que se faz hoje é muito pior. É ridículo.
Não é um pouco de romantismo da sua parte achar que um mercado tão grande não vai se comportar como qualquer mercado?
Não, não. Minha visão é realista e atual. Eu vivo isso, eu sei o que eu tô falando. Hoje nós temos 20 grandes contratantes no Brasil, e eles tem aquele menu não muito extenso de artistas que vão fazer as festas mais importantes do país. E tem cara que não sabe aproveitar, agradecer por fazer parte desse grupo seleto, sendo que a gente tem milhões de artistas querendo esses lugares. Cara não aproveita, prefere ficar gastando tempo bolando uma forma de te derrubar.
Toda a situação que você descreveu já te fez pensar em parar em algum momento?
Sim, várias vezes. Já pensei em parar, sumir, ir pra roça e ficar lá. Eu não trabalho pra viver isso, eu não sou obrigado a passar por isso, viver essas situações. O que nos mantém é que há sim relações de amizade muito firmes, pessoas que você quer muito bem e você sabe que é recíproco. Mas no geral, fazemos parte de um meio muito podre.
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Música
A nova linha do mercado sertanejo, que trata música mais como negócio do que como arte, já tem seus resultados negativos?
Sem dúvida. É visível pra todo mundo. Hoje você compra tudo, as pessoas aprenderam isso. Paga o jabá na rádio, compra a matéria, aparece na TV, então qualquer coisa é capaz de aparecer, por isso muita coisa ruim consegue espaço. Mas aparecer e fazer sucesso são coisas diferentes. Você pode estourar uma música ruim, ganhar uns trocados, comprar um carro bom, mas em menos de um ano você já tá de volta à estaca zero por não haver base. Não adianta querer explicar o que é uma carreira de sucesso pra alguém que tá feito louco atrás de um hit.
Eu tô ficando meio grilado com esse lance de história musical. Eu não posso falar de carreira porque eu tenho 7 anos, mas eu posso falar de base, de conhecimento. Hoje tem artista que não conhece de música, não vive música, não tem noção de nada, acha que ser músico é uma profissão que você escolhe da noite pro dia pra ganhar dinheiro.
E isso ilude muita gente, não?
Exatamente, estamos criando uma geração de artistas iludidos. Música é mais dom do que meio de vida, não adianta o cara pensar de repente música pode ser um trabalho como qualquer outro. Eu participo de festival de música desde os 8 anos de idade, e mesmo assim eu não pensava que música seria minha profissão. Essa ideia de artista como negócio, como lançamento de um produto qualquer, sem nenhuma verdade e espontaneidade, só faz criar iludidos que somem na mesma velocidade que aparecem.
E o futuro é ruim, como muito se fala dentro do próprio meio?
De forma alguma. Isso que tá acontecendo musicalmente é passageiro. Vai estourar um aqui, outra ali, mas a música sertaneja não cai, não some. O romantismo vai acabar voltando a ter mais destaque, nos shows a gente percebe a reação quando você canta uma música nova romântica.
Se um cantor novo, com investidor poderoso, te pedisse uma dica do que fazer pra começar, o que você diria?
Sinceramente, eu mandava ele esperar. Calma, deixa essa loucura passar, ela vai passar. Com a música sertaneja, com a música romântica, ninguém acaba. Vai devagar, pensa numa carreira, pensa em repertório, em um trabalho concreto, e deixa a poeira baixar um pouco.
As pessoas se esqueceram completamente que quem escolhe o sucesso é o público. Não é o empresário, o cantor, o escritório ou o dinheiro. É o público. Você pode fazer barulho, reclamar, xingar, gastar dinheiro, mas se as pessoas não gostarem, você não é ninguém, a música não é nada. Você pode ter 5 milhões pra investir e gastar esses 5 milhões sem ter nenhum retorno.
Você já viu um show do Amado Batista? Já foi em um show do Leonardo? Aquilo é a resposta: povo. O sucesso quem escolhe é o povo, é a massa, é o lance da identificação, e isso parece ter sido completamente esquecido. É por isso que no meio você ouve falar de um monte de “sucesso”, mas quando chega na vida real, vê que é tudo mentira. Isso aqui é vida real.
Po falou tudo, não sou cantor mas vivo no meio pois fotografo várias duplas e infelizmente sou obrigado a concordar com cada linha, acabou a arte, a musica e os cantores viraram produtos, e essa postura se irradia pra toda a cadeia alimentar do meio, vemos profissionais de palco, som,luz, imagem fazendo quase de graça pra derrubar os outros que estão estabelecidos no mercado a custa de muito trabalho e investimento, e tudo isso em nome da ganancia e vaidade dos empresários do show bussines, é ridículo o comportamento e a falsidade neste meio, imagino o quanto é dificil pra alguem como o Jorge confiar em alguem... e nem vamos falar de criatividade musical pois ai vai faltar teclado pra tanto rsr. Parabéns meu querido pela coragem de falar a verdade e quem sabe lançar uma luz sobre estas pessoas. Sucesso pra luz!
ResponderExcluirELE TEM RAZÃO. TEM MUITOS CANTORES QUE CANTAM NAS COSTAS DOS OUTROS E MUITO SÃO FILHOS DE CANTORES FAMOSOS E NÃO CANTAM NADA. A IMPRENSA FICA DANDO IBOPE PARA ELES. QUEM SABE NÃO TEM VALOR. SÓ PORQUE TEM UMA CARA BONITINHA E FICA ENROLANDO PRÁ CANTAR, ACHAM QUE SÃO O MAXIMO E FICAM FORÇANDO PARA COLOCAREM NO MERCADO ESSAS PORCARIAS. MUSICA SERTANEJA JÁ NÃO É LÁ ESTAS COISAS E AINDA FICAM COLOCANDO PORCARIA PRÁ TOCAR. NÃO EXISTE CRITÉRIOS PARA UMA BOA MUSICA. TOCAM QUALQUER COISA. JÁ NÃO SE FAZEM CANTORES COMO ANTIGAMENTE. ALIAS, EMPURRARAM A XUXA, JOELMA, TIRIRICA, MICHEL TELÓ, REGINALDO ROSSI, ATE JOGADORES DE FUTEBOL TENTARAM ENFIAR NO MEIO, ISSO É UMA LOUCURA A GANANCIA PELO DINHEIRO E AINDA TEM MUITAS DUPLAS SERTANEJAS QUE APARECEM ATE DO INFERNO E DIZ QUE CANTAM E FICAM ILUDINDO AS MENININHAS, BANCANDO FÃ CLUBE PARA ATINGIREM O SUCESSO. É UMA VERGONHA (BORIS CASOY)
ResponderExcluirPura hipocrisia dizer que já teve vontade de largar tudo. Ganhando rios de dinheiro como ele está e com a personalidade que tem, vc acha que o Jorge ia largar a carreira e perder uma dinheirama?
ResponderExcluirEssa disputa entre escritórios, empresários e duplas é nada mais que disputa de mercado, onde cada um quer mais dinheiro e fama que o outro.
Desde qndo esse tipo de música é arte? Pra mim é mais entretenimento e interesse mercadológico do que manifestação artística.
Que piada esse Jorge... a moda agora é o arrocha.