sexta-feira, 20 de abril de 2012

ENTREVISTA: DONO DA EMPREITEIRA DELTA, FERNANDO CAVENDISH NEGA QUE SENADOR DEMÓSTENES TORRES SEJA 'SÓCIO OCULTO' DE SUA EMPRESA

O Blog da Revista Estreia republica na íntegra, a entrevista que o dono da Delta Construtora, Fernando Cavendish deu para a colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, nesta quinta-feira, dia 19.

Fernando Cavendish
Em uma conversa gravada, o senhor disse que se colocar R$ 30 milhões na mão de político, ganha negócio. O senhor já pagou suborno?
Nesta conversa, eu debatia com sócios da Sygma, empresa (da área de petróleo e gás) que adquirimos por R$ 30 milhões. Eles não performavam. Eu os chamei para negociar o preço. E me gravaram clandestinamente. Eu queria dizer: "Olha. R$ 30 milhões, se eu fosse fazer projetos políticos, doações de campanha..."


"Ganho qualquer negócio."
A expressão foi muito ruim. Ficou horrível, horrível. E agora vou encarar uma CPI da pior forma possível.


Já pediram propina ao senhor? E o senhor pagou?
Olha só, o que se pede são apoios políticos, para campanhas, que é uma coisa legitimada, oficializada e que várias empresas fazem. Se apoio projetos, faço doações, não é que depois vá ganhar (licitações para obras). Mas posso estar pelo menos bem representado, tenho a oportunidade de ter informação dos futuros investimentos, das prioridades políticas. Por que megaempresas fazem doações a campanhas? Não é toma-lá-dá-cá. Tem licitação.


O senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) é sócio oculto da Delta, como diz o Ministério Público?
Não. Nunca vi o Demóstenes. Ninguém é sócio da Delta. Põe isso na sua cabeça. Já inventaram dezenas de sócios para a Delta. (O ex-governador do Rio Anthony) Garotinho foi sócio da Delta, o (ex-prefeito do Rio) Cesar Maia foi sócio. Esquece isso. Não existe. É factoide.


A Delta teria abastecido empresas fantasmas de Cachoeira em Goiás e, através delas, pago propina?
A empresa tinha um diretor no Centro-Oeste, Cláudio Abreu. Sou presidente do conselho, no Rio. Não sei o que está acontecendo em Goiás, no Nordeste, no Norte. O Cláudio conheceu o Carlos Augusto Ramos (Carlinhos Cachoeira). Eu sei quem cada um tá conhecendo? O que me importa são os resultados, os números, que me enviam em relatórios semestrais. Eu não pouso em Goiânia há cinco anos. Eu sabia por alto que ele conhecia (Cachoeira). Para mim, era um empresário, era um cara bem visto no Estado. Eu não conheço os caras do Rio, vou conhecer de Goiás? Nesse período todo de escuta, não tem uma única conversa que dê um indício de que eu tinha um conhecimento dessa movimentação. O Cláudio, nessa amizade, extrapolou os limites da atuação dele na Delta.


Conheceu Cachoeira?
Tive um encontro casual no bar de um hotel. Cláudio estava lá e me apresentou, muito rápido.


Cláudio Abreu nunca informou que dava dinheiro para o esquema do Cachoeira?
Nunca. Ele era sócio de terceiros, ia comentar comigo? A gente abriu uma auditoria para investigar essa movimentação.


Foram R$ 39 milhões. Não deu para perceber?
A empresa rodou nesses dois anos, 2010 e 2011, R$ 5 bilhões. Tem 46 mil fornecedores. Esse dinheiro, neste universo, é imperceptível.


A Delta é acusada também de favorecimento no Distrito Federal. O senhor conhece o governador Agnelo Queiroz?
Nunca vi. Eu tenho um crédito lá de R$ 30 milhões para receber, no contrato do lixo. A gente lá só apanha. Se eu tivesse ajudado na campanha dele, precisava de Dadá (araponga do esquema Demóstenes), de fulaninho, de beltraninho, contando história lá embaixo?


E o governador de Goiás, Marconi Perillo?
Não conheço, nunca vi.


Como a Delta conseguiu tanta obra no PAC?
Mas essa é uma sacanagem. Quando o PAC foi proposto, anunciaram R$ 250 bilhões de investimentos em quatro anos. Quando fizeram um levantamento aí em um site, houve a indicação de que a Delta estava liderando o PAC. A gente tinha faturado uns R$ 400 milhões em 2009. Mas isso era em investimentos dos ministérios. Virei líder do PAC. Sabe quanto vão custar (as hidrelétricas de) Santo Antônio, Belo Monte, Jirau? Só Santo Antônio corresponde ao faturamento de dez anos da Delta. Como posso, com essa minha conta de retalho, de 'trocentos' contratinhos que, somados, dão R$ 800 milhões, liderar o PAC? Estou liderando p. nenhuma. Mas fica bonito, na hora de bater no PT, dizer que o líder do PAC está cheio de problemas. Esquece. Eu devo estar em décimo no ranking do PAC.


O escândalo prejudica os negócios?
Vou quebrar. 

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