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domingo, 12 de dezembro de 2010

O FILME ‘HOMENS EM FÚRIA’ PRIMA PELO DESEMPENHO DE SEU ELENCO, MAS INFELIZMENTE DECEPCIONA EM TODO O RESTO

Em seu trabalho anterior com Edward Norton, o diretor John Curran entregou um sensível e belo romance chamado “O Despertar de Uma Paixão”. Repetindo a parceria com o ator, Curran apresenta ao público este “Homens em Fúria”, filme que tenciona ser uma parábola sobre o direito que temos de julgar os outros, mas acaba sendo engolido por suas próprias pretensões (Entrou em cartaz esta semana nos cinemas). O personagem principal é Jack (Robert De Niro), agente penitenciário cuja função é avaliar o comportamento dos presos e recomendá-los ou não para condicional. O público já é levado a sentir asco do protagonista pelo fato do longa mostrá-lo, em sua primeira cena, cometendo um dos piores atos de chantagem que posso conceber (me remeteu a cena da pequena Isabela Nardoni). Anos mais tarde, Jack e sua esposa Madelyn (Frances Conroy) vivem uma vida miserável, pontuada pelo tédio e pelo desespero silencioso. Prestes a se aposentar, Jack é designado para avaliar o caso de Stone (Norton), detento acusado de cumplicidade no assassinato dos próprios avós. Desesperado para sair dali, Stone pede para que sua esposa Lucetta (Milla Jovovich) o ajude a convencer Jack a lhe dar um parecer favorável. A partir daí, começa um jogo perigoso entre os três, que começam a revelar suas verdadeiras faces.


Jack talvez seja o personagem mais detestável da carreira de Robert De Niro. Ao longo de décadas, vimos o veterano ator encarnar figuras complexas e de moral mais do que duvidosa, como psicopatas, ladrões, assassinos… Mas Jack é um homem extremamente mesquinho e egoísta, que esconde tudo isso por trás de uma fachada de religiosidade, algo que é extremamente corriqueiro, o que deixa o torna, paradoxalmente, ainda mais assustador. Sem dúvida este é o melhor trabalho de Robert De Niro como ator desde sua ponta em “O Bom Pastor”. Ao invés de investir nas características palpáveis dos personagens, o roteiro de Angus MacLachlan (que escreveu o eficiente “Retratos de Família”) se perde em psicologia de botequim e retóricas religiosas que simplesmente não chegam a lugar nenhum, retratadas por sequências longas e morosas pelo cineasta John Curran, com o diretor simplesmente não conseguindo imprimir ritmo algum à trama. Em contrapartida, o elenco está ótimo, com o quarteto de atores entregando performances competentes. Embora o filme pertença a De Niro, Edward Norton também não fica atrás do colega, criando uma persona completa em Stone. Os trejeitos e dicção criados pelo ator para o preso, que se modificam com o passar do tempo, combinam perfeitamente com o personagem, em um soberbo trabalho de caracterização realizado pelo ator. Interpretações de tal calibre, aliás, já são rotina para Norton.


Milla Jovovich surge sedutora e enigmática como nunca, sendo surpreendente o seu trabalho aqui, considerando suas já conhecidas limitações como atriz. Após anos vivendo apenas heroínas de ação, chega a ser incrível ver a bela ucraniana se arriscando em uma figura tão complicada quanto Lucetta que, graças à atriz, possui um ar que lembra as antigas femme fatales. Frances Conroy tem a tarefa mais complicada da empreitada, conseguindo exprimir todo o desespero de sua personagem mesmo com pouquíssimos diálogos. Em meros momentos, o olhar de sua Madelyn nos revela uma mulher à beira de um precipício, algo que não só é comovente para o público como também nos ajuda a perceber quão nocivo Jack é para aquela pobre pessoa. É o elenco que consegue fazer com que o longa se sustente. O texto pretensioso de MacLachlan aliado a uma direção pouco inspirada de Curran simplesmente impede que nos aprofundemos naquele mundo e naqueles personagens. Existem alguns momentos fortes, como o assassinato na prisão, mas não há uma coesão entre eles, algo que prenda o espectador na cadeira entre os diálogos tensos entre aqueles personagens.


Curran flerta com o cinema noir em várias sequências, nos poucos momentos em que o filme dá um passo a mais rumo ao espectador, principalmente nas cenas envolvendo Jack e Lucetta. Sem a imersão do público naquele universo, temos apenas atores talentosos em cena representando personagens, que pouco reconhecemos como seres humanos. Um maior investimento na pergunta feita por Stone à Jack (“quem é você para me julgar?”) talvez conseguisse trazer mais humanidade ao filme.

Infelizmente, “Homens em Fúria” desperdiça o ótimo trabalho feito por Norton, De Niro, Jovovich e Conroy em um longa apenas mediano.

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